DO ASSUSTADOR FENÔMENO DO SHIFTING A NOSSA DIFICULDADE DE LIDAR COM O MUNDO REAL
Há uma semana, descobri algo extremamente assustador. Pensei imediatamente: preciso compartilhar isso com meus leitores!
Faço parte de alguns grupos de estudo e pesquisa do pensamento junguiano. Dentro dele, falou-se de um podcast Radio Escafandro (que compartilhO com vocês AQUI). No episódio, falava-se de um movimento conhecido como shifting, praticado principalmente por jovens. Confesso que, à medida que ouvia o episódio, sentia calafrios e passei a temer o futuro. Até que, ao ouvir o discurso e os desejos dos jovens que realizam essa prática, pensei:
será que todos nós não fazemos isso um pouco em nossas vidas?
Esse movimento é composto por pessoas que desejam mudar e pertencer imediatamente à realidade desejada através de uma “mudança de consciência”, que pode ocorrer através de técnicas de meditação, visualização e estados de transe, por horas. As pessoas que praticam shifting1 acreditam que podem transferir sua consciência para uma "realidade desejada" (RD), onde vivem experiências e situações diferentes das de sua "realidade atual" (RA).
Bem, minha curiosidade sociológica e filosófica me fez pesquisar mais a respeito e perceber nos discursos dos jovens que fazem parte desse movimento algo muito comum e presente, em certa medida, na vida de todos nós.
Os jovens diziam se teletransportar e viver mais tempo em realidades mais desejáveis:
Nessa nova realidade, alcançada imediatamente, eles faziam parte de Hogwarts (a escola de bruxos de Harry Potter), eram mais magros, famosos, populares, ricos... Nessa realidade, não havia problemas. Nela, era possível manter as unhas sempre pintadas. Eles dedicavam bastante tempo do seu dia em estados de consciência alterada, experienciando o seu próprio “mundo perfeito”, infinitamente superior ao mundo real.
Feitos os necessários contraste do shifting (que pode se tornar patológico com incentivo comunitário a dar fim da própria vida) com o devaneio natural ao ser humano, senti a necessidade de trazer algumas pontuações que nos ofereçam a oportunidade de autocrítica.
Primeiramente, precisamos ter consciência de que essas práticas de imaginação e de alterações de consciência já fazem parte da humanidade desde que o mundo é mundo. O ser humano é um animal simbólico. Só conseguimos construir o mundo por intermédio da imaginação. Toda criação é, primeiro, fruto de uma ideia, como aprendemos com Platão2.
Qual é o problema desse tipo de prática, então?
Numa perspectiva crítica, houve uma distorção da proposta de Jung sobre a imaginação ativa. Ela nunca foi um método para fuga da realidade. Tornar-se importantíssimo pontuar: a imaginação ativa é um instrumento de estudo do inconsciente, extremamente complexo, realizado por um analista junguiano, num processo de de análise, que pode ajudar aqueles que praticam a aprofundar o conhecimento de si mesmos e, a partir daí, terem instrumentos internos para transformar a sua própria realidade.
Dito isso, precisamos observar como a nossa sociedade tem produzido pessoas com três enormes dificuldades:
1 – A capacidade de lidar com a frustração.
2 – A capacidade de lidar com o próprio desamparo.
3 – A capacidade de compreender a realidade tal qual ela é e agir nela.
Há muitos séculos, cientistas sociais têm discutido sobre o impacto da produção de desamparo a partir do nosso funcionamento social. Hoje, as redes sociais nos impõem uma noção de sucesso e de mundo perfeito que parece ser instantânea.
Não aprendemos a importância da constância e do tempo necessário para a materialização de um sonho. Vemo-nos onipotentes. Queremos tudo imediatamente.
Confrontar nossa mediocridade é também confrontar nosso temido desamparo. Sentimo-nos incapazes de lidar com a realidade tal qual ela é. Sentimo-nos pequenos diante das adversidades. Para não nos responsabilizarmos pela nossa própria vida e pelo nosso bem-estar, preferimos nos dispersar.
Não é exclusividade dos jovens a fuga da realidade. Estamos constantemente nos alienando. Sobretudo, de nós mesmos.
Preferimos o conforto da ilusão a levantar as nossas próprias mangas para construir a realidade que queremos. No entanto, tal fuga não nos torna livres dos desconfortos.
Quanto mais nos alienamos da nossa realidade e desistimos de desenvolver nossos próprios potenciais de transformação, mais contribuímos para uma sensação de baixa autoestima que torna o mundo mais denso do que ele de fato é. Realmente, viver não é tarefa fácil. Não estamos imunes aos desconfortos.
No entanto, bons marinheiros, primeiramente, tiveram que encarar suas tempestades. A vida é dura, mas também é muito bonita. Para enxergar sua beleza, é necessário ter os olhos bem abertos para enxergar o Real.
Para saber mais sobre shifting https://www1.folha.uol.com.br/amp/folhateen/2024/07/jovens-fazem-shifting-para-fugir-da-realidade-e-visitar-universos-da-cultura-pop.shtml
Platão foi o principal discípulo de Sócrates e o maior professor de Aristóteles. Após a morte de seu mestre, Platão decidiu fazer inúmeras viagens pelas regiões onde hoje encontram-se a Grécia, a Itália e o Egito. Sua Academia, fundada em 380 a.C., é uma das primeiras versões das atuais universidades. Nela, ele deu corpo à sua tese central: a teoria das formas ideais. Para Platão, os erros ocorrem quando não compreendemos as formas das coisas, as quais, segundo ele, não eram acessíveis aos sentidos, mas apenas à mente.
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Quero trazer algumas dicas para dialogar com esse texto e alimentar nossa mente criativa.
Livro: o Homem e seus símbolos Jung
"O Homem e Seus Símbolos" de Carl Jung é essencial para compreender a profundidade da capacidade humana de simbolizar. Nesta obra, Jung revela como os símbolos são expressões profundas do inconsciente, moldando nossos sonhos e comportamentos. Entender os arquétipos e a linguagem simbólica não só nos proporciona uma visão mais rica da mente humana, mas também nos ajuda a integrar de maneira mais harmoniosa os aspectos conscientes e inconscientes da nossa psique. Mergulhe nesta leitura transformadora e descubra como os símbolos influenciam sua vida cotidiana.
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Filme : um novíssimo testamento ( quero trazer ele em breve como análise)
Sinopse: Deus é um senhor malvado que vive em Bruxelas. Revoltada com o pai, a filha de 10 anos de idade decide revelar para todos os seres humanos a data e a hora de suas mortes, o que gera consequências inimagináveis.
Disponível em PrimeVideo e AppleTv
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Música: Segredos do Mar (Flavia Venceslau)
Disponível YouTube aqui
“Uma parte do meu coração não me avisou que assim seria
Conhecer os temporais pra ter alguma calmaria
Achou por bem se entregar com a mesma força
Que o silêncio se entrega à sua casa mansidão
Eh he he iá, navegar
Pelo segredo tão sagrado desse mar
Eh he he iá, navega
r
Pelo segredo tão sagrado desse mar
Uma parte do meu coração não me falou
Que é tão forte navegar em alto mar
Poder mudar a própria sorte
E resistir como se todo o seu tesouro
Fosse mesmo a parte que em meu coração se resguardou
Eh he he iá, navegar
Pelo segredo tão sagrado desse mar
Eh he he iá, navegar
Pelo segredo tão sagrado desse mar”
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No domingo 28/7, ocorreu a Aula Magna “7 Chaves para a Ação".
Abordamos para mais de 100 alunas como agir de maneira eficiente e autêntica para realizar nossos sonhos, especialmente para mulheres, utilizando as "7 Chaves para a Ação Eficiente": clareza, entusiasmo, energia, autoestima, consciência dos limites, realidade e estratégia. Cada chave foi explicada com passos práticos, como autoanálise, escrita matinal, criação de um ambiente inspirador, práticas diárias, gestão do estresse, e estabelecimento de planos de ação realistas.
Enfatizamos a importância de entender e respeitar os próprios desejos e limites, reconhecendo que a verdadeira ação vem do entusiasmo e autenticidade, e não da necessidade de aprovação externa. A aula destacou a necessidade de uma visão realista e uma abordagem estratégica para enfrentar desafios e alcançar os sonhos, incentivando as mulheres a arregaçar as mangas e criar maneiras práticas de resolver seus problemas diários.
A aula segue com a prática durante a semana com 7 dias de retiro filosófico on-line.
Se você não quiser perder nenhum curso, aula e promoções, te convido a entrar na Comunidade de Avisos Petit no whatsapp (por lá envio e-books, aulas secretas e bônus) link aqui
Até a próxima Newsletter!
Com Amor, Jéssica
Como sempre muito interessante e me proporcionou diversas reflexões em forma de autocrítica. A alguns anos li um artigo sobre Maladaptive Daydreaming (acredito que seja assim mesmo a escrita), e percebia que fazia isso muito desde a infância. Foi muito importante conhecer o conceito, seus problemas e o desconforto que ele escondia para que eu começasse a melhorar e essa melhora veio justamente pela prática de enxergar a beleza da vida real!!